8 de Espadas

terça-feira, 18 de março de 2014

Quando fazemos uma mudança, até organizarmos tudo algumas coisas vão nos dar a impressão de terem desaparecido e isto pode provocar uma certa angústia. Este estado de espírito pode refletir uma mudança interior profunda. Uma mudança é sempre uma viagem na direção do desconhecido. Estamos num fluxo contínuo de mudanças e elas não são lineares, não são absolutamente regidas pela lei de causa e efeito. Nos arcanos do Tarô vemos que a Justiça é apenas um dos arcanos maiores. Há outros mistérios, somos mistérios vivos, tal como o Tarô, encerrando milhares de segredos. O próprio futuro é uma incógnita e neste sentido o Tarô como ciência divinatória é uma válvula de escape da angústia frente ao desconhecido. O Tarô como método de auto-conhecimento é a superação da angústia pela compreensão.

Como compreender este 8 de espadas aqui? A carta possui uma imagem angustiante: uma mulher vendada e amarrada caminha por entre espadas afiadas em terreno alagadiço.

Citamos o arcano maior da Justiça e o 8 de espadas é uma de suas expressões: vemos uma mulher vendada como em muitas imagens da Justiça. O arcano da Justiça preside o naipe de espadas, afinal a própria Justiça empunha tal arma, tal poder. Mas aqui as espadas estão fincadas no chão, ferem a terra úmida, parecem cercar a mulher de forma ameaçadora. A mulher sente-se isolada, solitária e sem nenhuma ajuda. Possivelmente esta mulher tem um senso de justiça extremado e bastante afiado. Espadas são armas de guerra, possuem uma energia fortemente militar, masculina que parece oprimir a mulher. O castelo ao fundo sobre uma montanha de rocha sólida dá mais peso a carta, o céu cinza, nublado reforça o peso. Notem que as espadas não estão dispostas de forma simétrica, temos 3 espadas a direita da mulher e cinco à esquerda, 3 e 5 de espadas. O 3 e o 5 de espadas são arcanos difíceis, bem como 8, mas a dificuldade aqui é uma dificuldade de natureza psicológica (espadas), como se os nossos pensamentos se tornassem armas contra nós mesmos. A mente por sua própria natureza é avessa ao desconhecido e à mudança, pois opera através de um conjunto de rotinas, como um programa, sendo presa de uma série de paradigmas que reagem a qualquer mudança em sua rígida estrutura. Daí surge a angústia, como um mecanismo de defesa do ego frente ao desconhecido.

A personagem da imagem parece ter fugido das masmorras do castelo que fica para trás mas traz consigo ainda parte da opressão de sua prisão em sua fuga: cordas que lhe amarram o corpo tenso e receoso.

Nesta vida nunca sabemos verdadeiramente o que é certo e o que é errado, apesar das regras que desejam nos impor justa ou injustamente. Não raro nossos valores mais íntimos se jogam com os valores de um mundo opressor, mas buscamos amortecer este conflito de diversas formas até que num momento isto não é mais possível e a própria angústia torna-se a expressão deste conflito interior.

Por vezes sem conta fizemos por tanto tempo o certo do ponto de vista dos outros para descobrirmos apenas o certo como uma faceta de uma imposição, de um autoritarismo sem sentido, mas parte do acordo social. Então descobrimos que aquilo não é o que somos verdadeiramente, aquele comportamento tornou-se um padrão tão bem implantado que nos confundimos com ele e agora descobrimos ou temos a chance de descobrir que algo que adotamos como nosso por tanto tempo não é realmente nosso, não é parte de nós. A angústia é o sintoma que nos indica o caminho para nos libertarmos de um padrão de comportamento que essencialmente não nos pertence. Não precisamos ficar repetindo velhas formas de ser, podemos e devemos ir em busca do novo e deixar as masmorras do ego para trás, no passado.

A normalidade é uma doença. Não podemos ser normais, pois se não ultrapassarmos as normas não poderemos nunca crescer e sermos nós mesmos. A normalidade é apenas o conjunto de programas e rotinas que impuseram a nossa mente e que mina a nossa energia. Se quisermos ser justos com nós mesmos teremos que empunhar a espada da mente para romper com as normas que quiseram nos impor.

O 8 de espadas é encontro da mulher da imagem com um conflito onde todas as opções não parecem ser boas e ainda assim ela deve decidir, pois não decidir também não é aconselhável e nem possível. As emoções entram em conflito e precisam encontrar a melhor maneira de encontrar a paz, rompendo justamente com um passado insustentável. A Lua em Libra pede que nossas emoções busquem o equilíbrio pela razão e pelo diálogo. Ao mesmo tempo a Lua e Urano encontram-se em oposição propiciando rupturas no eixo Áries-Libra (eu e o outro). Marte retrógrado e Lua estão prestes a entrar em conjunção e isso faz evidenciar mais ainda as questões do passado que precisam ser resolvidas dentro de nós e que podem gerar uma certa angústia.

Momento mais do que propício para assumirmos a responsabilidade integral pelas nossas relações, sem transferências de culpas e praticar intensamente o Ho'oponopono:

Sinto muito, me perdoa, te amo, sou grato.

F.A.

9 comentários:

Cátia disse...

"Por vezes sem conta fizemos por tanto tempo o certo do ponto de vista dos outros para descobrirmos apenas o certo como uma faceta de uma imposição, de um autoritarismo sem sentido, mas parte do acordo social. Então descobrimos que aquilo não é o que somos verdadeiramente, aquele comportamento tornou-se um padrão tão bem implantado que nos confundimos com ele e agora descobrimos ou temos a chance de descobrir que algo que adotamos como nosso por tanto tempo não é realmente nosso, não é parte de nós." Achei tão claro o modo como você colocou esta questão, que tive que repetir. Porque comigo é mesmo isso que está acontecendo há cerca de 1 mês, com os outros em redor. Quando você diz não, não quero fazer isso, quero antes fazer aquilo, a galera se espanta com a decisão e convicção. Não compreende. "Se teme que os amigos o odeiem, simplesmente porque exerceu o seu direito de não fazer uma coisa que o deixaria infeliz, pergunte a si mesmo: será que eu quero mesmo amigos que me rejeitam por eu ser eu mesmo?"
K_line

Juliana disse...

"O Tarô como ciência divinatória é uma válvula de escape da angústia frente ao desconhecido.
O Tarô como método de auto-conhecimento é a superação da angústia pela compreensão."

Fico muito feliz por ter começado neste caminho atraída pela primeira razão e ter descoberto uma nova dimensão de vida ao adentrar na segunda. :)

Postagem incrível, tio Fê, suscitando várias reflexões importantes. E já ao olhar para a imagem, me vi nesta mocinha da carta: menos mal que as espadas estão ao redor, mas não a estão ferindo de fato; a visão desta perspectiva também foi providencial. ;)

Beijos aos dois e feliz nova fase!
Ju

Anônimo disse...

Oi, pessoas queridas! Oi, Cátia! Oi, Ju!

Grato pelas palavras e por poder honrar o espaço onde a Sócia faz continuamente brilhar o seu talento. Ontem tomada pelo cansaço ela me pediu para escrever a postagem de hoje e aproveitei uma frase que ela me disse antes de dormir como ponto de partida para o texto.

O caminho do auto-conhecimento é o caminho da individualização, de nos tornarmos nós mesmos frente a uma sociedade que quer impor o seu "modus operandis" e esta sociedade é especialmente cruel com o feminino e com as mulheres. A própria humanidade é oprimida pelo sistema que torna tudo coisa e mercadoria. Afirmar-se perante o mundo e colocar-se como um indivíduo frente a pressão social não é fácil, mas produz ao nosso redor o que chama de "aura dos vivos", um magnetismo que nos abre o caminho para encontrar outros "vivos", outros que estão no caminho da auto-descoberta, do auto-conhecimento e que não se sentem satisfeitos em ser mais um num mundo de nenhuns.

Gratidão a vocês e a todos da egrégora do Via que sustentam este sonho que é um despertar interior.

Beijos "ho'oponopônicos".

F.A.

Anônimo disse...

Errata: "...o que eu chamo de "aura dos vivos"",...

Maryssol disse...

Bom dia Vianautas,

Muita calma nessa hora...

Adorei os "Beijos "ho'oponopônicos"."

Sigamos pois, cada vez mais consciente da nossa responsabilidade perante nossas vidas e como co-criadores da parte que nos cabe neste universo de possibilidades!

Sinto muito,
Me perdoa,
Eu te amo,
Sou grata!

Maryssol

Cacau Gonçalves disse...

Bom dia, amigos e amigas! :-)

Cá estou eu, depois de uma noite de sono, depois de acordar cedo e desencaixotar mais coisas e descobrir, entristecida, que (não era impressão) algumas caixas ficaram pelo meio do caminho, ainda na primeira mudança de Teresópolis. É a única explicação para que eu não encontre coisas tão fundamentais como os pratos de uso diário, a sanduicheira, a garrafa térmica, dentre outras coisas. Este era um risco que eu sabia que ia correr, já que eu não pude ficar lá para acompanhar a mudança. Enfim, não adianta chorar pelo leite derramado, mas é fato que terei que trabalhar mais para poder comprar tudo que se foi... Ai, Senhor..rs

O 8 de Espadas por aqui (e fui eu que escolhi a imagem, antes de pedir ao sócio que fizesse a postagem) tem a ver mesmo com esta moça, que parece confusa e sem enxergar. Eu estou com a vista embaçada desde ontem de noite (algo além da minha natural miopia) e com uma sensação de baixa de energia, um cansaço além da conta. A frase que veio a minha mente quando vi esta imagem foi "o que é que eu não estou conseguindo enxergar?" Porque tem algo aí que está passando batido, sem que eu consiga compreender, apesar de meu corpo estar dando provas de detectar o tal "algo".

Sempre que usamos demais a mente, corremos o risco de perder informações. Quando permitimos que o corpo trabalhe como uma antena e que conseguimos compreender os seus sinais, a comunicação é perfeita e nada se perde.

Sigamos nesta tentativa de manter a comunicação afinada...

Aqui na Mantiqueira, o céu está bem azul com algumas nuvenzinhas de algodão. Está calor, mas nem de longe aquele calor de 40 graus! E de noite - pasmem! - dá para puxar uma cobertinha... Em breve, imagens da vista da varanda daqui de casa, uma das coisas que faz valer a pena acordar todo dia...

beijos!

Virginet disse...

Excelente postagem! Belíssimo texto, Cacau! O que dizer então da representação gráfica que vc escolheu para o oito de paus! Adivinha quem é a moça da carta, rs! Muito grata!

Vinícius Dalí disse...

Acho que estou começando a entrar na vibe do Blog. De vez em quando eu lia alguns textos daqui, mas esse de hoje caiu como uma luva. Acho que é muito do que eu precisava ouvir nesse momento...

Abs. =)

Anônimo disse...

Claudinha e Eu somos médiuns intérpretes desta egrégora, dá para sentir a pressão energética sutil ao escrever, assim nós somos gratos à força que todos os aqui vem deixam com suas presenças mágicas virtuais, sutis e reais como só a energia pode ser, Via Tarot.

_/\_

F.A.