Ensaio sobre a inveja

domingo, 6 de janeiro de 2013

Há tempos estou para escrever sobre isso... E logo que vieram os primeiros pensamentos, fiz uma conexão com o "Ensaio sobre a cegueira". Muito provavelmente, porque eu acredito que a inveja seja resultante de uma imensa cegueira sobre si e sobre o outro.

Sentir inveja de alguém não é admirar esta pessoa, apesar de alguns acobertarem a inveja sob tal pretexto. Sentir inveja de algo que alguém possui também não é querer ser capaz de conseguir conquistar o mesmo.

A inveja costuma acontecer quando não temos a capacidade de enxergar nossos próprios talentos e capacidades. Ao invés de olharmos para dentro, olhamos para fora, buscamos no outro o que acreditamos faltar em nós.

Não creio ser possível sentir inveja sem que exista um pouco de rancor, seja em relação à vida ou ao outro. Isso quando o rancor não está direcionado ao próprio invejoso.

Todos temos beleza, inteligência, sensibilidade e outros talentos, basta enxergar! Mas não somente enxergar... Também desenvolver e aprimorar o que de bom já existe.

Olhar para o outro e acreditar que tudo para ele é fácil, simples e gratuito, é um tremendo engano. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é e isso pode exigir muito empenho e sacrifício.

Certa vez, em um dos locais onde trabalhei, fui questionada sobre o fato de estar sempre rindo, sempre demonstrando simpatia e alegria. "Você deve ser muito feliz mesmo, para estar sempre assim!" Minha resposta, em meio ao choque de sentir o impacto da inveja sobre mim, foi: estou viva, sou saudável, só isso já é razão de ser feliz! Creio que a pessoa não entendeu nada...

Sempre tive profunda dificuldade de compreender a inveja...

Apesar da minha autocrítica superdesenvolvida, nunca quis ser outra pessoa senão eu mesma (melhorada, evoluída, amadurecida, mas eu mesma...), nunca quis ter algo que outra pessoa tem, mas conquistar as minhas coisas por conta própria e menos ainda quis o relacionamento de outra pessoa, pois sei o quanto custa a convivência, seja com um parceiro, a família ou amigos.

Tudo nesta vida requer trabalho, consciência, reflexão, esforço. Às vezes mais, às vezes menos. E não podemos nós, de fora da situação, julgar se o outro merece ou não aquilo, ou se conseguiu tudo de "mão beijada".

A inveja, quando se revela, demonstra que a pessoa está mais focada nos outros do que em si e com isso está perdendo muito tempo! Tempo precioso que poderia ser utilizado para ser alguém muito, muito melhor.

Por outro lado, viver com medo da inveja alheia também demonstra que o foco continua fora, quando deveria estar dentro. Devemos estar muito atentos a isso, já que a ideia fixa em algo costuma demonstrar que temos este algo dentro de nós também.

Substituir a inveja pela gratidão é sempre uma boa pedida. Impede que sejamos envolvidos por um tipo de energia que, longe de ser benéfica, é negativa e improdutiva.

Sejamos gratos, pois...

2 comentários:

. disse...

Falou e disse, Claudia: certeira, como sempre!

Abs,

Marina.

BruxaNuíta disse...

Adorei esse post!
Concordo com cada palavra! Ninguém sabe a dor, o suor, o esforço que o outro levou pra conseguir tudo o que tem e nem sempre um sorriso indica a conquista de um "bem" ou de uma vida sem problemas... Hoje em dia, esse papo de "inveja branca" mascara esse lado negro que todo mundo tem e que todos podem mudar, apesar de nem todos quererem...!